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terça-feira, 8 de dezembro de 2009

TER FÉ,É UMA COISA,SER FANÁTICO, É OUTRA COISA BEM DIFERENTE...


RELIGIÃO E FANATISMO
Por: Maria Clara Lucchetti Bingemer

O fanático, segundo a definição do dicionário é aquele ou aquela que se considera inspirado por uma divindade, iluminado pelo espírito divino. É ainda aquele que tem zelo religioso cego, excessivo e intolerante. Aquele, portanto, que adere cegamente a uma doutrina, a um partido; que é partidário exaltado e faccioso. Aquele, ainda que tem dedicação, admiração ou amor exaltado a alguém ou algo. E por fim, acrescenta o dicionário: é alguém entusiasmado, apaixonado.
O fanático se exprime no transporte do furor divino. A infinitude de um deus escolheu sua finitude humana para fazer ressoar no mundo uma verdade soberana. Reduzindo-se a nada, anulando-se em seus desejos e aspirações para ser porta-voz deste Deus, o fanático corre o risco de olhar os outros com os mesmos olhos inclementes e frios com os quais se olha a si mesmo. E pode ver com frieza e indiferença a anulação daqueles que não partilham seus sentimentos. E como acredita que nele se encarna a mensagem divina, para ser digno de algo tão elevado, exige de si mesmo uma renúncia aos prazeres de ser humano e só pode voltar-se para os rigores mais desumanos. O fanatismo converte muitas vezes, portanto, o ser humano em um espírito que se arranca do corpo e da terra para melhor governa-los em nome do céu.
Wilhelm Reich já denunciou os estragos causados por esta inclemência que reprime e esmaga os desejos legítimos do corpo e da matéria. Existe um puritanismo da ordem que acaba desembocando em desumana crueldade. A pureza da raça exige a grande limpeza dos campos de concentração, a pureza da religião necessita fogueiras e guilhotinas, o gulag salva um certo marxismo de revisões que lhe perturbariam a claridade. Examinando, com um certo recuo no tempo, os conflitos religiosos que levantaram um contra outro justos e injustos em nome da fé e da religião, constata-se aí uma deformação de base que está na raiz do problema. O desprezo do prazer e do gozo como manifestação de vida conduz o indivíduo, tanto quanto a sociedade, a uma esclerose do comportamento que é terreno fértil e propício para o fanatismo e a violência. Se existe e pode existir em cada um uma propensão para o fanatismo ordinário, ela se deve não à natureza humana, mas a sua deformação. Que a ética e o dever sejam irreconciliáveis para alguns indivíduos ou sistemas com o sentimento de felicidade e serenidade indica suficientemente a lacuna do viver que produz a inflação dos valores destrutivos de si e dos outros, que se denominam intransigência, intolerância, inclemência, violência, enfim. Indica, enfim, que o fanatismo não permite contemplar coisa alguma a não ser com os olhos da morte. As três religiões monoteístas, o cristianismo, o judaísmo e o islamismo são consideradas, - a meu ver um pouco precipitadamente, - religiões de conquista. Por isso - afirmam alguns - a violência estaria de uma maneira ou de outra presente dentro da história dessas religiões e mesmo da sua constituição, do seu corpo doutrinário e do seu corpo jurídico.
O fato de serem religiões monoteístas já as torna por si mesmo eivadas de uma certa excludência, pois crer num Deus único significa recusar todos os outros. E essa excludência das demais divindades resultaria na excludência da crença dos outros em suas divindades , o que terminaria resultando em fanatismo e violência com consequênias cruentas e deploráveis. O judaísmo que é o mais antigo de todos os monoteímos foi tendo que se firmar passando por estágios diversos: primeiro o da monolatria, que era a adoção de um Deus único, considerando no entanto como divindades os deuses dos outros povos. Até que depois do exílio da Babilônia e da reforma de Esdras , fincam-se as bases do monoteísmo que vai realmente dar origem depois ao nacionalismo judaico, ao sionismo e a tudo enfim que foi decorrendo desse monoteísmo, o qual tem mesmo características um tanto excludentes, porém muito mais no sentido de legítima defesa e auto-proteção. A concepção do judaísmo monoteísta é, portanto, a de que só esse Deus é Deus, e todos os outros deuses que os outros povos possam adorar são ídolos ou divindades falsas e quem os adora está no erro. Então, toda a tensão que pervade a bíblia judaica é muito mais entre fé e idolatria do que entre fé e ateísmo. O ateísmo não é um problema dos povos antigos. O problema dos povos antigos monoteístas é justamente a idolatria. Não cremos poder confirmar, portanto, a consideração dos monoteísmos como religiões de conquista e excludentes. Poderia, sim, ser afirmado que os monoteísmo devem lidar, administrar sempre uma tensão entre excludência e integração, o que não é fácil nem simples.
Hoje vivemos no tempo do macro ecumenismo, do diálogo inter-religioso. Apesar disso se pode constatar que embora em teoria se tenha muito claras as exigências desse espírito de abertura que o diálogo exige ,tudo muda quando se vai ao exercício mesmo dessa tolerância religiosa, desse escutar o outro diferente. Diferente na sua crença, no exercício da sua religião, na maneira de dize-la e de propor-la. Aí a tentação do fanatismo ronda, o entusiasmo experimentado e que deu sentido à própria vida se universaliza e totaliza, convertendo-se em univoidade excludente das diferenças do outro, que sente e experimenta de outro modo.
Daí para a diabolização do outro, na sua alteridade, a distância é pequena se a vigilância da tolerância não for exercida e exercitada com pertinácia e perseverança. E se o Deus do outro começa a adquirir a forma de um demônio, corremos o risco de encontrarmo-nos a um passo de uma luta de deuses.
Ao longo da história da religião, vários pensadores que marcaram o mundo ocidental levantaram suas vozes para criticar a violência. O processo da violência e a alienação que ele produz é por eles e elas percebido como um processo de reificação, ou seja, de assassinato. Só ao se libertar de toda dominação da força é que o ser humano pode então contemplar os três mistérios da existência: a verdade, a justiça e a bondade.

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